Futuro urbano em pós-pandemia

 

Contribuindo para a reflexão em torno da evolução das cidades no pós-pandemia, foi publicado, na edição n.º 260 da revista portuguesa Jornal Arquitectos, o artigo de opinião Futuro urbano pós-pandemia.

 

“Após um período traumático de contenção de afectos e afastamento físico, muitas questões se colocam tendo em vista o futuro das cidades, dos comportamentos sociais e das relações interpessoais. E são estes que, no tempo e no espaço, continuarão a permitir a nossa coexistência. Os ambientes construídos e as cidades são pontos de encontro para que estas interacções aconteçam e perdurem. A dimensão oculta que acontece nestes interfaces sociais, por si só, é o espaço que nos aproxima, que nos distancia e que torna possíveis as relações humanas sem que uma determinada consciência revele essas evidências. Está, intimamente, ligada à arquitectura e ao planeamento das cidades. Já a obra literária “A Dimensão Oculta”, datada de 1966, da autoria do antropólogo Norte-Americano Edward T. Hall, revelava uma análise profunda acerca do espaço e como o ser humano se apropria dele.
Nas circunstâncias pós-pandemia este distanciamento revela-se com outra carga e com outras consequências sociais. No entanto, teremos que encarar estas novas preocupações como oportunidades inadiáveis para a mudança do actual modelo de cidade e das características funcionais e construtivas dos edifícios. Urge um sentido disruptivo de pensar os ambientes urbanos porque, de facto, a relação com o espaço e a nossa recente percepção sobre este, como indivíduo e como colectivo, leva-nos a reflectir sobre diversos temas, tais como: modularidade, reversibilidade, adaptabilidade, regenerabilidade, habitabilidade, biodiversidade, sustentabilidade.
É necessária uma visão holística para colocar a natureza e a biodiversidade em foco nos espaços urbanos através da integração de nature-based solutions. Por outro lado, há-que introduzir novos sistemas construtivos sustentáveis e fontes de energias renováveis que promovam uma economia circular no sector da construção e que reduzam as emissões de CO2 para a descarbonização no sector, diminuindo, assim, a pegada ecológica e dotando as cidades de ambientes mais saudáveis e inclusivos. Terão que ser implementados novos sistemas dinâmicos e evolutivos que permitam a desassemblagem como ponto de partida para uma adaptação a novas necessidades e programas que possam advir de outras emergências futuras.
Este é o momento no qual os arquitectos têm um papel fundamental na visão e transformação das cidades de uma forma inovadora e resiliente, como ponto de partida para a criação de valor económico, social e ambiental rumo a um futuro sustentável”.

Jornal Arquitectos – Junho 2020 / Edição 260